A Rebelião de 759: Um Levante dos Pagãos Contra a Crescente Influência do Cristianismo em Khazaria

blog 2024-12-03 0Browse 0
A Rebelião de 759: Um Levante dos Pagãos Contra a Crescente Influência do Cristianismo em Khazaria

No coração da estepe euro-asiática, durante o século VIII d.C., uma tormenta política e social se abatia sobre o império khazar, marcando um ponto de viragem nas relações entre as populações pagãs e os líderes convertidos ao cristianismo. A Rebelião de 759, liderada pelo príncipe pagão Faris e acompanhada por revoltas simultâneas em outras partes do reino, resultou numa luta feroz pela alma de Khazaria, desafiando a hegemonia da fé cristã que começara a se consolidar nas décadas anteriores.

A ascensão ao poder dos khazares durante o século VII foi impulsionada pela sua posição estratégica como intermediários entre o Oriente e o Ocidente na Rota da Seda. Sua capital, Itil, prosperava como centro comercial e diplomático, atraindo comerciantes, embaixadores e missionários de diferentes partes do mundo conhecido. O reino era, inicialmente, um mosaico de diferentes povos e religiões: turcos, eslavos, judeus, iranianos e, claro, os próprios khazares com sua fé ancestral politeísta.

A mudança nesse cenário religioso começou em meados do século VIII, quando o khan Bulan se converteu ao judaísmo após um encontro com comerciantes judeus de terras distantes. Essa decisão surpreendeu muitos, mas abriu caminho para uma tolerância religiosa relativamente ampla no império. No entanto, a influência de Bizâncio, que buscava expandir sua esfera de controle na região e conter o avanço do Islã, levou à propagação gradual do cristianismo dentro das fronteiras khazaras.

Missionários bizantinos chegaram em grande número, estabelecendo igrejas e convertendo alguns membros da elite khazar. A crescente influência cristã gerou ressentimento entre a população pagã, que via sua tradição religiosa ameaçada por uma fé estrangeira. O medo de perder a identidade cultural e os privilégios tradicionais contribuíram para um clima de tensão crescente.

As Causas da Rebelião:

Em 759 d.C., essa tensão explodiu em uma rebelião liderada pelo príncipe Faris, um fervoroso defensor das tradições pagãs khazaras.

  • A intolerância religiosa: Apesar da tolerância inicial do khan Bulan, a crescente influência do cristianismo gerou medo e ressentimento entre a população pagã.

  • A perda de privilégios: A conversão de alguns membros da elite ao cristianismo levou à uma percepção de que os pagãos estavam perdendo poder e prestígio na sociedade khazar.

  • As ambições de Bizâncio: A presença de Bizâncio e sua campanha de proselitismo cristão eram vistas com desconfiança por muitos khazares, que temiam a perda da autonomia do reino.

A rebelião foi brutal, envolvendo confrontos sangrentos entre pagãos e cristãos. Faris conseguiu reunir um exército considerável, composto principalmente por guerreiros pagãos, que marcharam sobre Itil, o centro administrativo do império. A batalha por Itil foi longa e violenta, mas Faris saiu vitorioso, forçando a fuga dos líderes cristãos da cidade.

Consequências da Rebelião:

A Rebelião de 759 teve consequências profundas para Khazaria:

  • O fim da influência cristã: A rebelião levou ao colapso da presença cristã no império e ao retorno ao paganismo como a religião dominante.

  • A fragmentação do reino: A revolta enfraqueceu o poder central do khan, levando à descentralização do império e ao surgimento de facções rivais.

  • O reforço da identidade khazar: A luta contra a influência cristã ajudou a consolidar a identidade cultural dos khazares, que se viram unidos por um inimigo comum.

Uma Viagem na Memória:

Embora a Rebelião de 759 tenha sido esquecida pelas histórias tradicionais, ela nos oferece uma janela fascinante para a complexidade da vida social e religiosa em Khazaria durante o século VIII d.C. Essa luta por poder, fé e identidade revela a constante dinâmica de mudanças culturais que moldavam as sociedades medievais.

As evidências arqueológicas e os fragmentos históricos descobertos ao longo dos séculos nos permitem reconstruir essa revolta e entender suas causas e consequências. Os restos de igrejas bizantinas em ruínas, as inscrições em túmulos pagãos e os relatos de viajantes árabes nos fornecem pistas valiosas sobre essa época turbulenta da história khazar.

A Rebelião de 759 serve como um lembrete poderoso que a história é muitas vezes escrita pelos vencedores, e que eventos aparentemente menores podem ter consequências profundas e inesperadas. É através da exploração dessas histórias esquecidas que podemos ampliar nossa compreensão do passado e descobrir novas perspectivas sobre o mundo em que vivemos hoje.

Tabela Comparativa:

Característica Paganismo Khazar antes de 759 Cristianismo na Khazaria (Século VIII)
Divindades principais Tengri (Deus do céu) e outros deuses da natureza Deus cristão, Trindade
Práticas religiosas Sacrifícios animais, oferendas aos espíritos da natureza, cultos ancestrais Missas, orações, ritos cristãos tradicionais
Organização social Estratificada com líderes religiosos e políticos poderosos Influência crescente dos bispos e clérigos

A história da Rebelião de 759 nos convida a refletir sobre a natureza complexa das identidades culturais, a influência de fatores externos nas sociedades medievais e o papel constante da luta pelo poder em moldar o curso da história.

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